Coleção de Moedas e o Clube Filatélico e Numismático de Taquara

Introdução

Claudio Schroeder

            Grande destaque foi dado às comemorações dos quinhentos anos do Descobrimento do Brasil com a realização de eventos, congressos, publicação de estudos e exposições.

            Isso ocorreu especialmente no Brasil e em Portugal atingindo uma enorme parcela da população. Essa divulgação foi finita, seu tempo de ocorrência foi durante certo período, antes do ano de 2000 durante e algum pouco depois. Mas um dos meios de divulgação utilizado continua a passar a idéia “comemorar os 500 anos” até hoje e deverá continuar por um bom tempo. Falamos da cédula de plástico de dez reais.  Essa é outra característica do dinheiro: permitir o registro de um fato nacional importante e perpetuar a sua comemoração na totalidade de uma população e mesmo no exterior.   

            Analisando um meio circulante obtemos informações várias: modelo de governo, modelo artístico conforme a moda em diferentes épocas, comemorações, personalidades... Enfim revisamos a história. A essa análise chamamos de NUMISMÁTICA, ou seja, um estudo criterioso das moedas.

Da teoria obtemos que moeda metálica “... é certa quantidade de metal (ouro ou prata) marcada com o selo oficial (cunho) como sendo o representativo-equivalente de um valor fixado por lei”.

Entendemos por moeda fiduciária “todas as outras espécies que assim se chamam, ou correm como tal, sejam de cobre, níquel, bronze, papel, etc. Não são realmente, a moeda: são consideradas simples promessas ou obrigações realizáveis da primeira, e nada mais...” Podemos incluir ainda mais um tipo que a numismática estuda, mas em classe à parte, a medalha. Essa não tem valor fixado por lei, mas um valor comemorativo ou de reconhecimento da entidade que a criou para com o agraciado.

O desenvolvimento da numismática está mais organizado e difundido no exterior. Na Europa e na América do Norte existem desde tempos passados grandes coleções públicas e particulares, vários clubes de colecionadores. Além é claro de vários comerciantes com tradição centenária em organizar leilões de moedas, cédulas, medalhas, condecorações e literatura numismática. Hoje o acesso a essas informações ficou muito facilitado com a Internet.

No Brasil existem acervos importantes de moedas nas coleções do Banco Central do Brasil, Banco do Brasil, Banco Itaú, Museu Histórico Nacional, Museu Imperial entre outros. Além desses, existem ótimos acervos particulares em quase todos os Estados. Em termos de clube para colecionadores temos alguns. O mais ativo é a Sociedade Numismática Brasileira com sede em São Paulo, fundada em 1924, completou oitenta anos. Para quem quer estudar a numismática brasileira é fundamental um contato com essa entidade que esteve presente em vários congressos e convenções de numismática. É a principal responsável pela divulgação da nossa numismática através de suas publicações.             Os colecionadores de moedas dos demais estados brasileiros dentro de suas possibilidades também organizaram associações, sendo que dessas algumas estão ativas até hoje. Citando em especial as mais ativas, Associação Filatélica e Numismática de Brasília, Associação Filatélica e Numismática de João Pessoa, Associação Brasileira de Numismática na cidade do Rio de Janeiro, Associação Numismática Paranaense e a Associação Numismática Paulista na cidade de São Paulo. Aqui no estado o pólo principal está em Porto Alegre com a Sociedade Gaúcha de Numismática e a Sociedade Filatélica Rio Grandense. No interior algumas sociedades estão em evidencia citamos Sociedade Filatélica e Numismática de Novo Hamburgo, Sociedade Filatélica e Numismática de Caxias do Sul e o Clube Filatélico e Numismático de Taquara entre outros. Com registro especial realçamos que o CFNT (Clube Filatélico e Numismático de Taquara) está completando cinqüenta anos de fundação no ano de 2004.

Em termos de coleção de moedas, em exposição, a situação do estado é ruim. No momento não temos nem uma exposição didática com nossas últimas moedas para visitar. O acervo do Museu Julio de Castilho, um pouco desfalcado, não está em exposição. Parte do ex-acervo do Banco Meridional, agora de posse do Banco Santander, está distribuído numa simples vitrine lateral em dois corredores no ótimo Centro Cultural em Porto Alegre.             Realço que quase todo Museu Municipal do Estado possui uma coleção de moedas e cédulas. Mas por falta de orientação técnica e intercambio de informação, as séries são incompletas e não obedecem a um sistema de classificação geral. Essa regra que pode ter raras exceções é devido à falta de literatura numismática. 

A numismática apresenta a seguinte divisão

A. Moedas Ocidentais

       1 Antiguidade

              Moedas Gregas, estudadas por região e nessas por cidades

              Moedas Romanas existe período República e Império

              Populações influenciadas pelos gregos e romanos

       2 Idade Média

              Inicia com a instalação dos bárbaros no Império Romano do Ocidente

              As missões do Império Bizantino

              Moedas do Renascimento. Nessa época é criada a primeira medalha

       3 Tempos Modernos

              Final do Século XV é o início da cunhagem mecânica

              Começam a surgir os primeiros trabalhos impressos sobre numismática

       4 Época Contemporânea

              O uso generalizado do sistema decimal que na França ocorreu após a

                    Revolução marca o início dessa divisão que segue até hoje

B. Moedas Orientais

       1 Moedas Muçulmanas

              Das regiões com cultura muçulmana do Atlântico às ilhas do Pacífico.  Sua característica é a ausência de retratos possuindo só inscrições

       2 Moedas do Extremo Oriente

              Regiões da Índia, Sião, Japão e China

C. Objetos Monetiformes

       1 Moedas particulares, Jetons, Medalhas e etc

            Dentro dessa divisão as moedas brasileiras são da época contemporânea. Dividindo por épocas de Governo, no Brasil, circularam os seguintes tipos de moedas que relacionamos resumidamente com o objetivo de mostrar uma visão geral do conjunto:

1500 a 1818. Nesse longo período tivemos domínio português, espanhol, holandês (parcialmente) e português. Cada uma dessas etapas com seus vários governantes deixaram marcas no meio circulante que era constituído de moedas de ouro, prata e cobre além do dinheiro da terra.  Existiam diferentes valores cunhados; recunhagem de moedas de outros países com o cunho nacional e carimbagem para aumentar, diminuir ou regionalizar determinada moeda. Em certas regiões circulou ouro em pó, mas com o passar do tempo foi instituída a cunhagem em barras, de vários tamanhos e pesos, sendo que as menores circulavam como moeda. Já existia o fisco e a fraude ao fisco, inclusive com cunhagem de moeda falsa. Cria-se o Banco do Brasil e começa a circular a moeda de papel (1808). 

1818 a 1822. O Brasil passa a Reino Unido de Portugal, sob o governo de D. João VI. O nosso meio circulante continuava sendo em ouro, prata e cobre sendo visível à diminuição do primeiro e o aumento dos demais. Os valores cunhados foram:

Em ouro 6$400, 4$000 (leia-se seis mil e quatrocentos réis...)

Em prata $960, 640, 320, 160 e 80 (leia-se novecentos e sessenta réis...) 

Em cobre $LXXX, XL, XX, X, 75,37 e meio (leia-se oitenta réis...)

1822 a 1831. Em setembro de 1822 nos tornamos independente de Portugal e passamos a ser Império do Brasil. Em 1821 com a saída de D. João VI, foi junto com ele o pouco ouro que o tesouro nacional possuía. Isso refletiu de tal maneira no lastro do Banco do Brasil que o mesmo não poderia trocar todas as notas em circulação por moedas de ouro ou prata. Além dos desmandos da administração houve gastos com as forças armadas para fazer e manter a independência e depois com o reconhecimento da mesma por Portugal (1825). O meio circulante era composto na maioria de moedas de cobre e papel e muito pouco por moedas de ouro ou prata. Nesse período além de outras medidas para melhorar o meio circulante foi realizado empréstimo externo (1824). A numismática registra o novo tipo de governo nas moedas somente a partir de 1823. Isso é devido ao tempo gasto com a confecção das moedas desse novo regime.Houve uma cunhagem do valor de 6$400 réis, em ouro, com data de 1822 e diferenças nas legendas e no busto do Imperador em comparação com as moedas datadas de 1823. Essas moedas de 1822 participaram da cerimônia de Coroação do Imperador D Pedro I em 01/12/1822, como oferenda à igreja. Por essa participação as mesmas são conhecidas na numismática como Peça da Coroação. (peça nome português para moedas de 6$400 réis - ouro). Segundo antigas crônicas numismáticas D Pedro não gostou da moeda e suspendeu a sua confecção, que atingiu 64 exemplares. Desses são conhecidos, hoje, 15 exemplares em coleções públicas e particulares no Brasil e no exterior. Isso faz dessa moeda um dos principais exemplares numismáticos da coleção de moedas do Brasil. Assim seu valor como tal objeto está em torno de US$ 100.000,00 no mercado numismático internacional. De 1500 até 1830 as moedas eram cunhadas no exterior (Portugal) e com o passar do tempo em várias regiões do Brasil. Por decisão do Governo de 1830, só passa a existir a casa da Moeda do Rio e as casas de fundição de Goiás e Mato Grosso. Os valores cunhados nesse período foram:

Em ouro 6$400, 4$000; em prata $960, 640, 320, 160 e 80; em cobre $80, 40, 20, 10, 75 e 37 e meio.

1831 a 1889. Em abril de 1831, Dom Pedro I abdica em favor de seu filho Pedro, príncipe imperial com cinco anos de idade. Seguem-se as regências e a coroação de Dom Pedro II, já então com quinze anos e o início do longo governo do nosso segundo imperador. Nesse período houve um grande desenvolvimento no país e tivemos nitidamente três sistemas monetários distintos que revelam tentativas de organizar o meio circulante, o que enfim foi conseguido. Circularam moedas de ouro, prata, cobre e níquel. Com o desenvolvimento veio a ganância e essa colocou em circulação moedas falsas de cobre. Isso aconteceu em tal quantidade que o governo teve que tomar várias medidas para coibir tal abuso. A numismática registra esse fato com o estudo de moedas da época que receberam carimbo oficial que indicava ser “moeda boa”. Os valores cunhados nesse período foram:

Em ouro 20$000, 10$000, 5$000, 6$400, 4$000; em prata 2$000, 1$200, 1$000, $800, 500, 400, 200, 100, 960, 640, 320, 160 e 80; em cobre $80, 40, 20; em bronze $40, 20,10; em níquel $200, 100,50.

1889 até Hoje. Em 15 de novembro começa a fase republicana do Brasil. Foi mantido o padrão réis até 1942. O Ouro circulou até 1922 e a prata foi sendo cada vez menos usada até 1938, e em certos casos em moeda comemorativa de datas e personalidades da nossa história. O resto do meio circulante era níquel, bronze e alumínio além do dinheiro de papel. Em 1942 adotamos a denominação de Cruzeiro. Após em 1967 ficou Cruzeiro Novo e começa a ser utilizado o aço inoxidável além de outras ligas. Em 1970 volta a ser Cruzeiro. Em fevereiro de 1986 nova reforma monetária e o nome passa a ser Cruzado que logo em seguida mais uma vez golpeado pela inflação que assolava o país passa a ser Cruzado Novo. Nesse período só foram cunhadas moedas em ouro e em prata a titulo de comemoração e essas não entraram em circulação. Em 1990 nova mudança para Cruzeiro, que durou até 1993, sendo substituído por Cruzeiro Real. Esse é substituído pelo Real em julho de 1994.

            Aos nossos leitores que ficaram interessados em saber mais sobre numismática reforçamos o convite do CFNT para o encontro a ser realizado nos dias 15 a 17 de Outubro nas dependências do Candemil Hotel, em Taquara. Nessa oportunidade algumas dessas moedas e cédulas que ligeiramente citamos estarão em exposição. Da mesma forma será realizada uma mesa redonda sobre o tema coleção de moedas aberto ao publico em geral.

            Num próximo artigo iremos descrever o uso de moeda particular brasileira no passado e hoje em dia. Por moeda particular entendesse fichas metálicas ou não emitidas por particulares, estabelecimentos comerciais e industriais e mesmo autoridades públicas, para suprir a falta momentânea de troco no meio de seus empregados, mas que muitas vezes passam a ter aceitação em geral, mesmo numa outra região. Esse tipo de emissão é proibido por lei, mas foi muito utilizado no passado e ocorre ainda hoje sempre que falta dinheiro oficial numa região. E a cidade de Taquara teve seu dinheiro particular. Aguardem...