UMA DESCOBERTA – UM ENCONTRO FELIZ

Peter Meyer



Em 1994 decidi publicar o Catálogo de Inteiros Postais do Brasil. Esta decisão na verdade já vinha sendo desejada desde 1984, quando em nosso escritório um colecionador apareceu com um selo Dom Pedro II diferente. Ele dizia, irritado, que o catálogo de selos estava falho, pois não encontrava o selo que ele nos mostrava. Nele Dom Pedro II olhava para o lado inverso do selo postal. Veja a seguir:

Selo de 200 réis com Dom Pedro II olhando para um lado

Selo de 100 réis com Dom Pedro II olhando para o lado oposto ao de 200 réis

Na época eu não sabia o que responder. Havia ingressado no mercado filatélico e nunca tinha visto algo igual. Disse a ele: tens razão, vou perguntar para quem sabe mais, no caso Rolf Meyer, meu pai.

Foi ai que ele mostrou-me os Inteiros Postais. O selo de 200 réis que o colecionador mostrava era uma peça recortada da Carta Bilhete CB-10 (ver ilustração), emitida em junho de 1884.

Neste momento decidi estudar os Inteiros Postais do Brasil e consultando antigos catálogos passei a classificá-los. E os valores? Não tinha idéia nenhuma dos valores e comecei a calcular e calcular, sem parar. Cheguei então a uma grade de preços, pois as relações entre as peças costuma não variar. Explicando melhor: Um 60 réis Olho de Boi carimbado vale metade do 30 réis. O valor de um 300 réis vertical novo de 1850 é o mesmo que do 1000 réis Pão de Açúcar novo, número 69 e assim por diante. Por essa razão qualquer um que diga que o catálogo apresenta cotações de interesse não sabe o que está falando, pois os preços sobem ou descem de acordo com a macro economia e estas relações permanecem. A macro economia não depende da vontade do editor do catálogo e sim da política de juros, câmbio etc do Governo Federal.

Finalmente, em 1994, publiquei o Catálogo de Inteiros Postais e claro que não consegui acertar os valores nesta primeira edição. O mercado destas peças agitou-se. Começaram a aparecer peças nos leilões e atualmente este capítulo foi incorporado ao Catálogo de Selos do Brasil. Errando e acertando conseguimos uma obra de referência mais confiável, mas não absolutamente correta.

Algumas peças deste setor eu nunca tinha visto. Nestes casos há três formas de proceder na avaliação:

a) As peças nunca vista vão Ter a indicação “-.-que significa NÃO SEI O VALOR

b) Vamos manter o valor inalterado, pois não há mercado

c) Vamos aumentar o valor a cada edição para ver se alguém, estimulado pelo valor financeiro, apresenta a peça.

Optei pela regra c.

Nas cartas-bilhete para uso privativo do Diretor Geral dos Correios eu havia classificado dois tipos em 1994, respectivamente CBI-1 com a Inscrição “GABINETE DO DIRECTOR” e a CBI-2 com a Inscrição “2ª SECÇÃO”, peça esta ilustrada na referida obra. Os valores eram 2.000 para cada peça, tanto nova quanto circulada. A CBI-2 foi então comercializada e estimo que existam 3 peças novas. Ao contrário do que se imagina a cotação sobe (nunca desce) depois que uma peça rara é vendida a um colecionador. Claro, pois após a venda o número de peças disponíveis diminuiu e certamente a relação oferta/procura mudou.

A CBI-1, por outro lado, nunca aparecia e a cada edição eu aumentava o seu valor. Na Edição de 2004 a CBI-1 nova registra R$ 32.000 e a CBI2 registra R$ 15.000.

No mês de fevereiro de 2005 tirei férias e fomos para a Europa. Desejava conhecer Viena, que para quem viaja de automóvel, fica fora de mão.

Era Sábado de manhã e estávamos visitando a Catedral de Viena no centro da cidade quando olhei uma pequena filatélica aberta. Entrei e um simpática senhora, tipicamente austríaca, nos atendeu. Perguntei se ele tinha qualquer peça da América do Sul, pois falar em Brasil não adianta nada. Ela tirou uma caixa de sapatos repleta de peças do terceiro mundo. Fiquei fuçando o conjunto, com minha esposa sentada ao lado, quando de repente fiquei pálido (ele assim disse). Não é possível, você está aqui perdida nesta caixa, acompanhada de cartas do Paraguai, Colômbia, etc. Não acreditei de imediato. Esfreguei os olhos e perguntei o valor. Ai então tremi. Disfarcei e comprei mais coisas, como Inteiros sem valor, pinças, paguei e fui embora. Fiquei admirando a peça e olhava para ela com freqüência.

De volta para São Paulo decidi vendê-la e enviei email para alguns candidatos em potencial. Eram filatelistas avançados e com possibilidade de incorporar em suas coleções uma peça com este grau de raridade. Esperei 11 anos por esta peça e finalmente achei! Claro que um destes colecionadores, o mais ativo e com a melhor coleção de Inteiros Postais que existe no Brasil, veio ao escritório e adquiriu no meu entender a MELHOR CARTA BILHETE do Brasil. A seguir veja a imagem desta peça que para nós representa UMA DESCOBERTA E UM ENCONTRO FELIZ ocorrido em fevereiro de 2005. Por isso não canso de estudar a nossa rica filatelia.