MINHA LINDA BROMÉLIA

 

Pedro Pinto Balsemão

 

 

Esta é a pequena, mas verdadeira história de como apareceu o primeiro ensaio da moeda bimetálica brasileira – o nosso real. Há alguns dias atrás, um amigo meu encontrou entre um lote de moedas de 1 real, uma peça até aqui, inédita. É a mesma, cunhada os dois lados iguais, ou seja: só o anverso (1 real). Aquilo chamou muito a minha atenção, visto ser de fato, uma coisa inédita até aqui. Comentei o assunto com diversas pessoas do meio numismático, quando ficou constatado não ser eu o único espantado. Meu espanto cresceu ainda mais quando um outro amigo me mostrou duas peças de 50 cents USA do ano de 1976, com a efígie do Presidente Kennedy. Aquela comemorativa 1776/1976, com os dois lados iguais, sendo esta em cupro níquel e não em prata como são as originais, e o pior são duas as peças cunhadas com um só lado, ou seja: um lado só a figura do presidente e a outra com a águia. Tudo isto não passa de uma “anomalia”.

 

Agora, recentemente, em uma reunião na cidade de Taquara/RS, em nosso Clube Filatélico e Numismático (CFNT), ao comentar tal assunto, eis que um jovem iniciante na numismática comentou ter visto uma moeda de 1 real bimetálica com a figura da República diferente da original. Dizia ele ser a República igual a do nosso cruzeiro 1970/78. É lógico que não acreditei. Então perguntei quem era o portador de tão rara preciosidade. Me respondeu ele ser de uma pessoa minha conhecida. Pedi mais detalhes, me dizendo ele não saber mais nada a não ser o que já havia me relatado. Pedi então o numero do telefone da pessoa. Não esperei um instante e liguei a este conhecido tendo então a confirmação de que a peça existia, mas que não era dele e sim de uma terceira pessoa. De cara combinei um encontro com meu amigo para que eu pudesse ver com meus próprios olhos tal afirmação. Fui então encontrar-me com esta pessoa numa bela tarde de quinta feira, chegando em sua banca às 14 horas. (Este cidadão é comerciante de antiguidades e negocia também moedas e medalhas antigas).

 

Depois dos cumprimentos e abraços de praxe, fui perguntando bem baixinho: “Que tal: posso ver a peça”? – Sim, respondeu ele. Aqui está a “encantada”. Vi então num envelope bem sujinho aquilo que eu não acreditava: uma peça de 1 real bimetálico com a data de 1997 com desenhos completamente diferentes das atuais. Aí constatei. Não tenho dúvidas: Isto é um ensaio do nosso real de 1998. Me deu uma tremedeira e o pior: eu não tinha onde me sentar... Fiz então a tradicional pergunta: Está a venda? – Sim, responde o amigo. Voltando a perguntar. Quanto pedes? Olha, o proprietário só está aceitando ofertas e não deve ser pouco. Pensei um pouco e chutei: Ofereço “X”. Nem pensar, respondeu o comerciante. O dono já teve oferta maior e não quis vender. Parei para pensar. Eu não podia deixar escapar aquela raridade. Juro que até pensei em fumar um cigarrinho, mas eu não fumo. Então fui até um bar e “tomei um martelinho” para me acalmar, hehehe. Precisava raciocinar. Voltando em alguns minutos, aumentei a proposta em 2 vezes “X”. O vendedor pediu que eu aguardasse um pouco e telefonou para o proprietário da moeda. Veio então a resposta: “O homem não se encontra – só às 7 da noite para falar com ele”, hehehe. Fiquei aborrecido, mas fazer o quê? Me despedi aguardando a resposta para mais tarde, para saber se minha proposta seria aceita ou não. Passado pouco mais de dez minutos, quando eu já estava indo embora, tocou meu celular. Balsemão, o homem topou. A peça é tua. Voltei imediatamente ao comerciante, preenchi um cheque e fiquei de posse de mais uma relíquia.

De volta em casa, agora com o auxílio de uma lâmpada muito especial, pude examinar com minúcia aquela surpreendente aquisição, me perguntando se seria de fato um ensaio. Comparei-a então com uma moeda de 1 real 1998, confirmando aquilo que eu já imaginava: De fato – trata-se de um ensaio, pois os metais são os mesmos, a parte exterior é de alpaca dourada, sendo o miolo de cupro níquel e com o peso rigorosamente igual, isto é, 7,8 g. e diâmetro idêntico. Não tenho mais nenhuma dúvida. Trata-se, verdadeiramente, de um ensaio e fui eu felizmente o premiado.

 

 

 

 

Rogo vênia para falar um pouco de mim mesma. Tenho 14 anos, pois, nasci em 1997. É só o que consta no meu curriculum. Não tenho registro de nascimento, não conheço meus pais, nem a cidade onde nasci. Já andei em muitos lugares, apesar da pouca idade. Andei de mãos em mãos, uma hora bem a vista, outra, escondida. Fui desprezada, ignorada e maltratada, sentindo vergonha disto tudo. Um dia destes, alguém me notou, mas não me quis e tratou logo de se desfazer de mim, levando-me para um lugar onde fiquei exposta. Nem assim quizeram-me, pois pediam um preço muito alto por mim. Então surgiu uma pessoa muito observadora, examinando-me minuciosamente, resolveu adotar-me, pois viu que eu tinha um valor inestimável. Pegou-me com carinho e pagou o preço exigido. Agora tenho um senhor. Ele é meu dono e proprietário, tanto que já está inclinado a decifrar a minha origem. Ele já descobriu que tenho três irmãos, nascidos dois anos depois de mim, graças ao meu DNA. Agora ele está a procura do meu registro, se é que ele existe. Estou feliz. Já tenho onde ficar segura. Sou muito bem cuidada e até tenho sido mostrada a algumas pessoas. Algumas gostam de mim, outras, nem tanto, pois ficam olhando-me com alguma desconfiança. Falam que tenho a cara pálida como lua cheia em noite de neblina, mas não me importo, pois sei que possuo uma auréola dourada. Já pediram para eu ser fotografada. Estou pensando se aceito ou não. Quero saber primeiro de minha verdadeira identidade, pois sei que não nasci por acaso, muito embora não tenha sido reconhecida. Assim, vou aguardar com ansiedade o desfecho do meu futuro. Moeda fala?