Selo, opção de investimento

Reinaldo Jacob

Associado da SPP - Sociedade Philatélica Paulista

Associado da ABRAJOF - Associação Brasileira dos Jornalistas Filatélicos

 

“Selo, opção de investimento”. Este slogan foi usado pelo Correio do Brasil, na década de 70, para incentivar o colecionismo e estimular a venda de selos.

 

Em todos estes anos em que estive envolvido na filatelia brasileira, aproximadamente 30 anos, sempre obtive a informação de que selo é uma opção de investimento. Em minha opinião, essa informação tem que ser recebida e tratada com alguma ressalva.

 

Colecionar selos é, acima de tudo, um prazer, um hobby, uma alegria, um divertimento, um lazer, motivo para aprender novas técnicas, estudo sobre selos, história postal e, principalmente, fazer novos amigos.

 

Os selos trazem parte da história e cultura de um país, mostram o folclore, esportes, personalidades, flora, fauna e inúmeros outros temas.

 

Todo filatelista sempre está em busca de novidades e notícias, procura se relacionar com outros colecionadores em busca de informações, estuda e pesquisa a história postal.

 

Dificilmente encontra-se um filatelista avançado que não possua um conhecimento acima da média e que não tenha ótimas informações para transmitir.

 

Esse deve ser o principal motivo de incentivo aos filatelistas, para que se organizem em grupos, em clubes e associações, ou seja, a troca de informações e selos.

 

O colecionismo estimula o senso de organização e a lógica na apresentação da coleção.

 

Incentivar a venda de selos, que não seja para usar como postagem ou para coleções, na minha visão, é um erro.

 

Investir em selos, para um investidor profissional que não possui nenhuma técnica para o manuseio e o armazenamento dos selos, pode significar a perda de dinheiro. Dependendo do lugar em que os selos forem guardados e estocados, podem pegar umidade e estarão comprometidos para venda.  Se estiverem amassados ou dobrados não servem para o colecionismo.

 

Estocar selos, pensando em obter altos de lucros, vendas lucrativas, a curto ou mesmo a longo prazo, também é, em minha opinião, outro erro.

 

Um selo conquista valorização pela demanda no mercado, pela famosa lei de mercado da oferta e procura.

 

Nem sempre um selo antigo, com mais de 100 anos de idade, é um selo raro e procurado. Por exemplo, existem selos do Império do Brasil, com mais de 100 anos de existência, que podem ser adquiridos pelo valor irrisório de R$ 1,00. Isso ocorre pelo fato de que foram emitidos milhões de determinados selos e a procura é muito baixa.

 

A maioria dos selos emitidos, tanto do Brasil quanto dos países estrangeiros, valem o equivalente ao seu valor facial, quando novos, e muito menos, quando carimbados. Aproximadamente, 95% (noventa e cinco porcento), dos selos existentes não possuem nenhuma expressão monetária, valem muito pouco no mercado e sua procura é inexpressiva.

 

Os outros 5% (cinco porcento) restante é que fazem a fama de que estocar selos é uma atividade de lucrativa e especulativa.

 

É claro que existem selos brasileiros extremamente valorizados e com grande procura mas, somente o colecionador profissional conhece e sabe comprar estes selos.

 

Referente aos selos do Império do Brasil, um fator determinante no valor de venda deste selos é a conservação e aparência.

 

Outro exemplo, os selos do Brasil, comprados pelo valor do porte normal de até 20 gramas, de 10, 20, 30 e até 40 anos atrás, possuem hoje o mesmo valor do mercado ao primeiro porte pessoa física. Isso quer dizer que não houve nenhuma valorização. Muito melhor investir em um banco financeiro. Com toda a certeza, a aplicação financeira do valor do porte normal de 10, 20, 30 e até 40 anos atrás, mesmo sofrendo desvalorização pelos inúmeros planos econômicos,  teria alguma valorização acima do valor do selo.

 

Quem busca retorno financeiro, aconselho por uma aplicação financeira ao invés de investir em selos. Mesmo a poupança terá, com toda a certeza, maior resultado.

 

É fácil demonstrar a tese apresentada. Em uma rápida consulta ao catálogo de selos do Brasil, RHM, 2001, os selos brasileiros da década de 60, com o valor facial correspondente ao primeiro porte, estão cotados com o valor de R$ 0,40. Isto é, o valor do primeiro porte pessoa física do ano de 2001. Isso acontece também com os selos da década de 70, 80 e 90.

 

Mesmo que algum selo, ou mesmo série, tenha baixa tiragem, isso não significa que terá um alto valor e mercado.

 

Tenho dois exemplos de selos brasileiros, com baixa tiragem, e os preços de venda ao mesmo nível dos demais.

 

É o caso da série do 4º Centenário do Descobrimento do Brasil, data de lançamento no início de Janeiro de 1900 (fig. 01). A tiragem desta série é baixa, exatamente de 100.000 selos, portanto, estão com mais de 100 anos de seu lançamento e os preços não alcançaram valor significativo.

 

 

Fig. 01

 

 

Como também a série da Exposição Filatélica Nacional (fig. 02), evento que ocorreu do Rio de Janeiro, na data de 16/09/1934. A tiragem dos dois primeiros selos da série (200 e 300 Réis) foram de 150.000 selos cada. Os dois últimos selos da série (700 e 1000 Réis) foram de 50.000 selos cada. Mesmo assim, com a baixa tiragem não significou valorização muito acima dos outros selos da mesma época.


      Fig. 02

 

 

 

Fig. 03


 Por outro lado, alguns selos brasileiros, do início dos anos 70, alcançaram valorização no mercado devido aos fatos de que tiveram baixa tiragem e também muita procura. É o caso do bloco da semana de arte moderna (fig. 03), com a baixa tiragem de 20.000 selos, seu valor de mercado é alto.

Existem, é verdade, selos que se valorizaram com tremenda rapidez, em curto espaço de tempo, como foi o caso do primeiro selo autômato lançado no Brasil (fig. 04 à 07). A peculiaridade que envolve esta valorização é muito rara de acontecer. Falta de interesse na época do lançamento e uma grande procura nos dias de hoje.

Fig. 04  
  Fig. 05      
Fig. 06
     

                            

 

Fig. 07

 

 

No geral, um selo hoje, que possua o valor facial do primeiro porte, com uma tiragem normal, terá este mesmo valor de mercado daqui a 20, 30 e até 40 anos, proporcional ao valor monetário da época.

 

Da mesma forma, um selo do passado, com o valor facial elevado, terá, com toda a certeza, o valor correspondente nos dias de hoje.

 

Agora vamos voltar o raciocínio para a emissão dos olhos-de-boi. Em 1843, o preço da tarifa para enviar uma correspondência que não excedesse a 4 oitavas, nas medidas de hoje corresponde a 15 grama, era de 60 réis. Pela teoria acima descrita, o valor de um olho de boi de 60 réis deveria ser de R$ 0,50, ou seja, o valor do porte pessoa física, até 20 gramas.

 

Os olhos de boi, segundo selo do mundo a ser aprovado e terceiro no mundo a circular, possui uma procura muito grande no mundo inteiro. A procura faz o preço deste selo subir pela lei do mercado. Outros fatores influem no preço final dos olhos de boi, conservação, carimbo, margens, múltiplos, chapa, posicionamento do selo da folha, enfim, para a teoria acima descrita, os olhos de boi não servem como parâmetro.

 

Da mesma forma, os inclinados, verticais e os coloridos, não servem como parâmetros para determinar que um selo não possui valorização normal e automática, no decorrer do tempo. O único fator que faz um selo possuir valor de mercado é a procura.

 

Um selo valorizado é aquele que alguns querem comprar e poucos possuem para a venda.

 

Na verdade, quem consegue investir em selos e obter algum lucro com isso são os colecionadores profissionais, que conhecem a fundo o mercado de compra e venda de selos. Estes conhecedores sabem quais os selos que devem ser estocados, com toda a técnica e cuidado necessário, para vender com alguma margem de lucro.

 

Finalizando, selo não é opção de investimento. Quem está em busca de valorização rápida do dinheiro deve procurar outras formas de investimento. A especulação não combina com a filosofia adotada na ética da filatelia.